Siga o Blog do Oracy

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Viagra a 2 real - Lula Vieira

A empresa onde eu trabalho implantou um sistema quase infalível de impedir que os funcionários recebam e-mails indesejados. É um antispam de última geração capaz de detectar até a intenção de quem remete. O grande problema é que ele funciona. Estou sem receber as bobagens que atulhavam minha caixa postal com as ofertas mais mirabolantes e os golpes mais sem vergonha. Eu adorava receber a informação que ganhei um carro porque fui o milionésimo freguês que comprou num supermercado, que um parente meu de Portugal morreu e me deixou uma fortuna ou que alguém tinha me fotografado na última festinha íntima de que participei.

De certa forma era uma espécie de refresco aos e-mails furibundos que alguns colegas escrevem. Como na música de Cícero Nunes e Aldo Cabral, quando o carteiro (eletrônico) chegava eu meditava e dizia “será de alegria, será de tristeza?”. Porque, como diz a dupla de compositores: “quanta verdade tristonha e mentira risonha uma carta nos traz”. Agora não tem mais disso. Não recebo mais ofertas de Viagras nem de maquininhas de aumentar o pênis, pobre de mim.


No entanto, sou obrigado a deletar por conta própria as mensagens dos burocratas de plantão que, com as devidas cópias para os patrões, bancam o Gervásio, personagem do José Simão: “ultimamente estamos usando uma quantidade descabida de papel higiênico, sem que tenhamos percebido piora na qualidade da comida do refeitório. Por este motivo estamos implantando um sistema de controle. Quantidades maiores do que o padrão só com autorização da signatária, acompanhado do respectivo laudo do departamento médico”.


O engraçado é que toda a mensagem restritiva é acompanhada de uma declaração de poder: “devido às medidas de contenção, estamos restringindo a utilização das copiadoras. Em casos excepcionais o signatário poderá...”. Prefiro mil vezes cobranças do Imposto de Renda, links para filmes pornográficos com a Sabrina Sato, avisos de protesto algumas vezes tão verossímeis que eu quase abri o anexo (onde estava o cavalo de Troia) ou cedi uma senha de banco. Quase abri, é verdade. Mas, de qualquer forma, quase.


Uma vez recebi um e-mail do Otávio Florisbal, diretor geral da Globo, me convidando para ser uma das pessoas que testaria um novo sistema de televisão, em desenvolvimento pelas principais redes do mundo, que permitiria a utilização das diversas mídias num alcance jamais imaginado. Seriam pouco mais de 80 pessoas no Brasil que – sob a mais rigorosa promessa de sigilo – receberiam todo aparelhamento em casa com direito a um tablet onde eu poderia concentrar tudo que utilizo para me conectar com o universo. Bastaria que eu desse algumas informações no formulário anexado.


O babaca aqui já estava respondendo ao terceiro quesito do tal questionário quando veio a luz. Porra! Tenho saudades dos falsos artigos de correspondentes estrangeiros sobre o Brasil e até mesmo de algumas crônicas de certos jornalistas brasileiros que eu intuí serem fictícias só porque eram muito melhores do que a média da produção dos caras. Agora não tenho mais acesso a nada disso. Se não for de empresa séria, de gente conhecida, com assuntos de relevância, a porcaria do antispam desvia. Qual é a graça de viver num mundo sem as promessas de vida melhor das propagandas, sem o risco de um vírus (virtual, é claro), sem bobagens e sem maledicências? Meus spams, por favor! Quero-os de volta! 

Nenhum comentário: