A empresa onde eu trabalho implantou um sistema quase infalível de
impedir que os funcionários recebam e-mails indesejados. É um antispam
de última geração capaz de detectar até a intenção de quem remete. O
grande problema é que ele funciona. Estou sem receber as bobagens que
atulhavam minha caixa postal com as ofertas mais mirabolantes e os
golpes mais sem vergonha. Eu adorava receber a informação que ganhei um
carro porque fui o milionésimo freguês que comprou num supermercado, que
um parente meu de Portugal morreu e me deixou uma fortuna ou que alguém
tinha me fotografado na última festinha íntima de que participei.
De certa forma era uma espécie de refresco aos e-mails furibundos que
alguns colegas escrevem. Como na música de Cícero Nunes e Aldo Cabral,
quando o carteiro (eletrônico) chegava eu meditava e dizia “será de
alegria, será de tristeza?”. Porque, como diz a dupla de compositores:
“quanta verdade tristonha e mentira risonha uma carta nos traz”. Agora
não tem mais disso. Não recebo mais ofertas de Viagras nem de
maquininhas de aumentar o pênis, pobre de mim.
No entanto, sou obrigado a deletar por conta própria as mensagens dos
burocratas de plantão que, com as devidas cópias para os patrões, bancam
o Gervásio, personagem do José Simão: “ultimamente estamos usando uma
quantidade descabida de papel higiênico, sem que tenhamos percebido
piora na qualidade da comida do refeitório. Por este motivo estamos
implantando um sistema de controle. Quantidades maiores do que o padrão
só com autorização da signatária, acompanhado do respectivo laudo do
departamento médico”.
O engraçado é que toda a mensagem restritiva é acompanhada de uma
declaração de poder: “devido às medidas de contenção, estamos
restringindo a utilização das copiadoras. Em casos excepcionais o
signatário poderá...”. Prefiro mil vezes cobranças do Imposto de Renda,
links para filmes pornográficos com a Sabrina Sato, avisos de protesto
algumas vezes tão verossímeis que eu quase abri o anexo (onde estava o
cavalo de Troia) ou cedi uma senha de banco. Quase abri, é verdade. Mas,
de qualquer forma, quase.
Uma vez recebi um e-mail do Otávio Florisbal, diretor geral da Globo, me
convidando para ser uma das pessoas que testaria um novo sistema de
televisão, em desenvolvimento pelas principais redes do mundo, que
permitiria a utilização das diversas mídias num alcance jamais
imaginado. Seriam pouco mais de 80 pessoas no Brasil que – sob a mais
rigorosa promessa de sigilo – receberiam todo aparelhamento em casa com
direito a um tablet onde eu poderia concentrar tudo que utilizo para me
conectar com o universo. Bastaria que eu desse algumas informações no
formulário anexado.
O babaca aqui já estava respondendo ao terceiro quesito do tal
questionário quando veio a luz. Porra! Tenho saudades dos falsos artigos
de correspondentes estrangeiros sobre o Brasil e até mesmo de algumas
crônicas de certos jornalistas brasileiros que eu intuí serem fictícias
só porque eram muito melhores do que a média da produção dos caras.
Agora não tenho mais acesso a nada disso. Se não for de empresa séria,
de gente conhecida, com assuntos de relevância, a porcaria do antispam
desvia. Qual é a graça de viver num mundo sem as promessas de vida
melhor das propagandas, sem o risco de um vírus (virtual, é claro), sem
bobagens e sem maledicências? Meus spams, por favor! Quero-os de volta!
Nenhum comentário:
Postar um comentário