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domingo, 19 de fevereiro de 2012

Ycaro, o bon-vivant ! - Nilson Ribeiro

Existe uma canção que diz " poeta só é grande se sofrer ". Belíssima por sinal, mas que me perdoe o nobre Vinícius de Moraes, sou obrigado a discordar, com muito respeito, da sua poesia. Todo poeta é grande, como ele também o foi, e como todos sabem, vivendo intensamente.
  Curioso é que geralmente se escreve assim, movido por uma paixão mal resolvida, uma tisteza escondida, talvez com o fito inconsciente de aliviar o peso da tragédia interior tornando-a púbilca numa folha de papel.
  Tenho um dileto amigo que não gosta de ler coisas tristes, ou melhor, pouco lê, dando vazão às atividades físicas, que é o seu forte; seja uma caminhada numa trilha ecológica montanha acima, um rapel molhado nas fímbrias de uma cachoeira silvestre ou num vôo
livre sobre as encostas seculares de uma sobrevivente mata atlântica. No pouco tempo que resta, quando se envolve numa leitura, o faz priorizando as alegres e divertidas matérias postadas na internet.
  Pensando bem, acho que não está errado não, embora possamos também aprender com os insucessos e vicissitudes alheias, nada como um texto otimista pra nos colocar pra cima e em paz com a vida.
  Vou portanto brindá-lo desta vez com algo alegre, bem leve, sem a necessidade sequer de um Houaiss como assistente.
  Veja bem, Ycaro, meu amigo, como a vida pode ser bela.
  Nascemos nús, e naturalmente nada possuímos, a não ser o cuidado materno do qual dependemos integralmente pra sobreviver durante algum tempo. E assim crescemos, desapercebidamente.
  De minha parte já estou num lucro danado, pois hoje me apresento bem vestido em reuniões,empresas, investimentos, passando com prazer de uma a outra atividade ao longo do dia, numa clara evolução do patrimônio pessoal, com dinheiro suficiente pra curtir tranquilamente sem me preocupar com o futuro incerto  que assalta a maioria dos mortais. Assim vou seguindo adiante, pretendendo viver muito ainda, privilegiando sempre a saúde física e mental em todas as instâncias; estar inteiro até o último suspiro é a meta primordial, queira Deus no conforto de um lar junto de uma bela e suave companhia; sem me ocupar com filhos e netos que ficam, cultos, educados, independentes de mim, senhores da própria sorte.
   A vida é bela e a felicidade existe pra mim desde o abrir dos olhos pela manhã, dirigindo os negócios como o faço com meu próprio carro ( zero a cada ano ), totalmente despreocupado seja com uma eventual troca de moeda no sistema financeiro, seja com uma pane do veículo numa rodovia de intenso movimento. Sempre conto com a lei da probabilidade a meu favor.
  E mesmo no rigor do inverno quero acreditar que os ventos nórdicos jamais fustigarão o meu rosto, acostumado no mais das vezes com as carícias da brisa morna que vem do mar ao fim da tarde, tendo uma caipivódca nas mãos, curtindo minha predileta praia particular a poucos metros da casa com varanda, solidamente construída em balanço sobre as escarpas do rochedo; o iate ancorado logo ali no pier dourado pelo por do Sol, jogando leve ao sabor das pequenas vagas, num plácido espetáculo da natureza.
  Nascido no litoral, num centro industrial, econômico, cultural e artístico, tudo isso reunido estrategicamente num só lugar, não tenho do que me queixar; soube aproveitar as oportunidades de crescimento, e assim me estruturar para ser um quase cidadão do mundo, falando o essencial em outros idiomas, viajando por outras terras, espalhadas pelo velho e novo continente, conhecendo-lhes as culturas e mazelas, desta forma valorizando mais e mais o meu país em cada regresso; livre das guerras, dos terrorismos e extremistas radicais, o povo aqui convivendo harmônicamente com as diversas crenças e dogmas, num interessante e invejável sincretismo religioso.
  Mesmo com a praga maior, que é a corrupção que grassa por todos os setores da sociedade, nativa como uma febre terçã ( que maltrata, maltrata mas não mata ), mesmo com ela dá pra conviver, pagando-se uma taxa aqui, um flanelinha ali, um imposto de renda acolá, ainda sobra o bastante pra sorrir entre doses de um bom uisque, um vinho de uma boa safra, até mesmo uma seleta cachaça de barril, sorrindo de uma gostosa piada de cunho político ou não, entre os amigos nos fins de semana, nos sítios, teatros e boates.
  Por que reclamar, meu Deus, se até os amores são generosos e não nos faltam, se os podemos trocar quatro, cinco vezes, e quando a paixão acabar, flertar uma vez mais sem compromisso, e namorar, namorar até platônicamente se fôr o caso.
  É, meu caro Ycaro, voce está certo com seu jeito "Pollyanna" de ser, vendo sempre o lado positivo das coisas. Pra que ler coisas tristes ?
  Bom mesmo é assistir a um belo musical na Broadway, um show de variedades, uma comédia hilariante numa aplaudida turnê que passa pela cidade, deixando o fígado completamente desopilado mesmo a despeito do champagne com caviar consumido um tanto em excesso no happy hour de poucas horas atrás. Basta de manchetes estampadas nas primeiras páginas de jornais, das chamadas de alguns noticiários televisivos, que desavisados, não conseguimos evitar a tempo.
  Vamos dar boas novas, conversar sobre coisas inteligentes, que agreguem valor...
  Alguns dirão que tenho sorte, que nasci bem. Mas saibam que estudei bastante na juventude, arrisquei muito e trabalhei duro outro tanto, mas sobretudo fiz as escolhas certas.
  No futebol por exemplo, sempre optei pelo melhor time de cada estado, no Rio, Minas , em São Paulo, por esse Brasil do penta, e pelo Barça lá fora, como não poderia deixar de ser na atualidade.
 Sempre torço pelo melhor, pra que sofrer ? Feliz entre iguais !
 Como diz Armando Aguirre, jornalista mexicano, " Eu tenho irmãos que são como meus amigos,  e amigos que são como meus irmãos. "
 Além disso, por uma questão de filosofia, jamais faço inimigos, nunca entro em discussões vazias, convivendo bem com todo tipo de gente, de qualquer nível. Nuns meios sou "gente fina', noutros "sangue bom"; o que poderia dar errado pra mim agindo desse jeito ?
  Alguns me classificariam como um bon-vivant. Se já nasci assim, só estou me aperfeiçoando com o tempo, eu diria.
  Por isso, meu jovem Ycaro, te saúdo e aplaudo. Vivamos muito e bem até o final do nosso tempo, e o melhor de tudo, celebrando sempre a vida nas menores coisas. Somos energia pura, desde o menor átomo que nos compõe.
  Parabéns !
Nilson Ribeiro, poeta ao acaso desde menino, fluminense de 57 anos, dos quais 42 de labuta, lidando com gente de todo quilate, fiz disso inspiração diária pra aguentar os trancos da vida.

Um comentário:

Teresa Santos disse...

Nilson:

Amei seu texto.
E confesso que também gosto mais de ver o lado rosa da vida.