São
cinco amigas. Tem a que tem olhos de gata, tem a que vive freqüentando
motel, tem a perua que gosta de receitas
para depois do amor, tem a que é artista e tem a Xuxa morena. Encontram-se duas
vezes por semana para fofocar. A que tem olhos de gata é louca por um padre e
são íntimos. A que freqüenta motel é casada com um homem muito bonito, aliás,
fazem um casal bonito, são mais jovens. A perua é madrasta da que freqüenta o
motel e quando se encontram a conversa gira em torno de missa, coral, sexo,
receitas, moda, enfim, assuntos gerais. Mas, o assunto mais discutido é o sexo
e o desempenho sexual dos maridos. A que freqüenta motel gosta de apontar as
vantagens desses encontros e também as novidades, tipo cadeira que gira,
poltrona erótica, colchão d’água, piscina, pista de dança com espelhos no teto
e no chão, uma loucura. Aqui cabe um porem, ela mora em um apartamento pequeno,
tem um filho de 18 anos que gosta de trazer a namorada pra casa. Então a
solução é eles irem para o motel. A perua é casada com um senhor que é pai da
que freqüenta motel. Ele está na casa dos 60 e ela diz que tem 58 anos. Diga-se
de passagem, a três anos a vela do bolo de aniversário dela tem o mesmo número.
Mas ela diz que a performance do marido é de deixar muito garoto no chinelo e
gosta de fazer petiscos para depois do amor. Eles têm um filho de 20 anos que
também trás a namorada em casa, mas a casa é grande e ninguém tira a liberdade
de ninguém. A Xuxa morena gosta mais de transar na casa dos outros e brincar de
esconde-esconde com os donos das casas. A que tem olhos de gata, no aniversário
dela, ganhou de presente de uma das amigas, um vibrador e roupas sexy e como
não tem marido, a amiga achou que este era o presente ideal, mas ela disse que
ainda não usou porque melhor mesmo é o padre e se fecha em copas... A artista é
casada com um homem que ela tem certeza pensar que as mulheres tem inveja do
órgão masculino só que o que ele não sabe é que as mulheres fazem sexo com
prazer até os oitenta e só querer e ter flexibilidade. Essa não conta nada para
as amigas só ouve as vantagens que elas tem para contar. É comum elas dizerem
que as vezes tem que estar escapulindo para dar uma trégua tal o apetite sexual
deles, são insaciáveis. Mas teve um dia que a artista foi obrigada a contar as
peripécias dela e as amigas, conta, conta, conta... Aí ela meio encabulada
pensou e soltou essa, nós fazemos sexo só na lua cheia porque é uma lua
afrodisíaca, fazemos com direito a champagne, morangos e pensou, o que é mesmo
que vi no filme Uma Linda Mulher, na cena em que a Julia Robert está na fase de
prostituta deitada no tapete do hotel assistindo televisão e tomando champagne
e comendo morangos. Aí ela lembrou, ah.., ela usava botas longas e mini-saia e
ela soltou mais essa, uso botas vermelhas de paetês até os joelhos, calça
corsário e espartilho negro. Afinal não era nem boba de dizer que usava
mini-saia e botas de cano longo. Todas acharam o máximo e já estão até na fila
da bota. Só que o que ela não disse é que sexo, só na lua cheia, a cada cinco
anos. Mas, enfim, cada um fantasia como pode. Foi aí que a artista lembrou, uma
ocasião quando foi viajar com o marido para uma festa de aniversário da
sobrinha, ficaram hospedados num hotel, daqueles de rede internacional com nome
de uma famosa corrida de carros. Quando eles saíram da festa e chegando no
hotel, entraram pela garagem para estacionar. Isso era por volta das 23:30
horas e estava uma mulher loura, de cabelão crespão, de casaco xadrez rosa e
branco, bolsas e botas rosa, e estava conversando com o funcionário do
estacionamento; dava para notar que ela estava a procura de programa e a
artista disse ao marido, enquanto você estaciona eu vou comprar água mineral na
portaria e ele respondeu, deixa que eu
compro. E praticamente tirou-a de dentro do carro e jogou-a dentro do elevador
e ainda gritou, espera lá em
cima. Ela esperou, duas horas e meia, contadinho no relógio,
foi quando ele chegou mal humorado, se queixando do transito, que era pra ela
não fazer nenhuma pergunta e foi direto para o banho, alegando que teve que
atravessar a cidade inteira para comprar uma garrafa de água. A artista, que
tem muito medo de doenças venéreas, pegou a garrafinha com repugnância e lavou
bem lavada, só depois abriu. A água era para tomar medicamentos, um calmante e
um comprimido para dormir. Mas isso ela não contou para as amigas também porque
esse tipo de humilhação a gente esconde bem escondidinho dentro de um baú, lá
no fundo da memória e se algum dia abrir esse baú, será o mesmo que abrir a
caixa de Pandora. Pandora não deveria abria a caixa, em hipótese alguma, mas,
como toda a mulher, era curiosa, ela abriu e da caixa saíram todas as misérias
do mundo. Na volta da viagem ela fez o marido acompanhá-la ao shoping, coisa
que ele sempre detestou, e comprou uma bota rosa, rosa bebê, que custou os
olhos da cara. Foi realmente muito cara,
só um sapateiro famoso poderia ousar uma
bota rosa igual e um casaco estilo channel, xadrez rosa. Ele pagou pelos dois.
A idéia dela era se fantasiar de prostituta, mas pensou, pensou, e se deu o
respeito. A bota ela usou uma vez com uma calça cinza e camisa branca e o
casaco ela está querendo vender para não ficar no prejuízo. A bota fica como
lembrança porque certas coisas uma mulher jamais deve esquecer. Quanto aos encontros
com as amigas, continua sendo duas vezes por semana e a conversa, como sempre,
é sexo, homem bonito, homem que tem boa pegada, gostoso, é lógico que nessa
entra o padre, o sexo feito na casa dos outros, as comidas para depois do amor,
o último motel que foi inaugurado. Só que dias desses, a que só freqüenta motel
apareceu com uma pereba no braço e acha que pegou lá no motel que acaba de ser
inaugurado. E o médico disse que era provável que não tenham trocado as toalhas
de banho ou os lençóis e que de agora em diante é melhor que ela leve os seus
lençóis e toalhas de banho. Aí a artista ficou pensando, ai que preguiça... E
continuou ouvindo e pensando na próxima fantasia que vai inventar. Até já
tentou usar a roupa de dragão da neta que tem quatro anos, pelo menos a parte
de cima, só para tirar uma foto e mostrar para as amigas e dizer: essa fantasia
é para a lua minguante que deve ser menos afrodisíaca para compensar os
excessos da lua cheia, senão não há quem agüente. E a fantasia de dragão ela
vai dizer que pediu emprestado ao dragão de São Jorge.
Restaurandora
de bens culturais, pintora, escultora, ourives, Em 2010 foi
classificada em concurso internacional em contos e cronicas, Três livros
publicados e uma coletânea do concurso Edições AG. Mora em Florianópolis, na ilha, casada, três filhos, gosta de animais
domésticos, de cultivar plantas, reunir os amigos, viajar, leitura,
cinema, e a paixão de escrever.
2 comentários:
É Nádia ! Se juntar as cinco não dá uma. Gostei!!!
É Oracy, e assim elas vão vivendo uma vidinha fútil!!!
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