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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

O destino de Arno - Nadia Foes


Arno era oriundo dos países baixos, com mestrado e doutorado na Holanda. Moço de boa índole, após o término do curso resolveu se estabelecer no país do samba, futebol e cerveja. Não, não, não foi bem assim. Pela sua capacidade ele foi convidado para trabalhar em São Paulo, sua função seria supervisionar obras na América do Sul. No início a adaptação de Arno foi difícil. De temperamento retraído, porém muito querido entre seus colegas de trabalho, não se sabe porque que era tão assediado pelas colegas. Teve apenas um breve romance com uma engenheira que conheceu em uma de suas viagens. Já trabalhava na empresa há alguns anos, os seus amigos iam casando e Arno não se resolvia. Era um holandês sonhador. Viajou muito, conheceu vários países, mas coisas do coração nada. Filho amoroso costumava trazer seus pais para o Brasil durante o período de inverno para fugir do frio glacial. E sempre que podia voltava para o seu país de origem para visitar seus familiares. Isso durou até Arno conhecer Mirabel que era oriunda de local bem abaixo da linha do Equador. Mirabel não nasceu ela explodiu e, da explosão, saíram partículas de falta de caráter para todos os lados. Cedo descobriu que possuía um trunfo nas mãos. De família descendente de bugres era a única de pele clara. Á medida que foi crescendo, no meio de dificuldades, tudo que desejava era ser rica um dia. Seus pais eram de bom caráter. Costumavam dizer, Mirabel a vida não é bem assim. Aos treze anos ela fugia no meio da noite e como moravam no subúrbio, costumava pegar carona. Teve muita sorte por não ter sido molestada. Seus pais acordavam no meio da noite e era sempre o mesmo suplício: Mirabel deixava a sua cama desarrumada e fugia na calada da noite. Aos treze anos ela fugia para passear na orla e ver as moças bem vestidas, os carros, os rapazes ricos. Caminhava horas e horas até cansar e passava horas a observar os jovens, seu comportamento, seu vestuário. Depois retornava para sua casa. Nos seus devaneios ela se via entrando nas boates da moda com roupas de gente rica, bem calçada, com uma bolsa cheia de dinheiro e um homem ao seu lado. O pior era quando chegava o inverno. Ela passava o inverno inteiro torturando a sua família dentro de casa. Aos dezoito anos ela já correra todas as agências de modelo, hotéis, etc. Sua finalidade era caçar um pato rico. Amor ela não sabia o que significava. Foi contratada para posar em eventos de carros com vestidos de gala. Foi trabalhar em eventos duvidosos. Sua carinha era bonita e tinha corpo de menino. Era uma tábua, como se dizia na época. Logo ficou manjada nos eventos e resolveu ficar loira. Na sua fase de loira foi trabalhar numa boate, sua função, entretenimento. Entreter os clientes. Porém logo foi despedida por ser mal caráter, arrogante, agressiva. Apanhou um bocado e foi jogada no olho da rua. Sua falta de caráter já estava lapidadissima. Era a encarnação do mal. Certo dia foi convidada para fazer um comercial de chuveiro. Foi numa mostra de decoração e não encontraram entre as jovens da cidade quem se dispusesse ficar horas dentro de um biquíni reduzido, tomando banho ora na hidromassagem, ora no chuveiro. Nesse evento ela foi convidada para outro evento. Esse era mais interessante, sua função seria ficar dentro de um tubo de policarbonato, pendurado num poste, onde ela deveria passar o dia, dentro do cubo, e se comportar como se estivesse na sua própria casa. Mirabel não quis saber de detalhes, perguntou apenas o valor e em que moeda. O cachê foi em dólares. Ela aceitou na hora. Isso representava sua carta de alforria e seu sonho de ir para capital. Ela agüentou firme o dia dentro do cubo, trocava de roupa várias vezes ao dia, à noite dormia. Os primeiros dias foram muito movimentados, todos queriam ver a moça dentro do cubo transparente e logo o povo perdeu interesse pelo tal cubo e a moça. Mirabel recebeu o cachê, arrumou uma sacola e foi direto para rodoviária. Embarcou para uma viagem que ia durar dezoito horas, rumo ao futuro. Chegando na cidade, no primeiro dia procurou um hotel modesto. Foi ao shopping fazer compras. Comprou um vestido de moça rica, sandálias e mais algumas roupas. Maquiagem e perfumaria ela trouxe na sua sacola, pois quando entrou no cubo ela recebera maquiagem, vestuário, etc. De posse das novas compras ela voltou para o hotel onde se produziu, apanhou um taxi e foi para se hospedar em outro hotel de luxo. Bingo para Mirabel! No hotel, ela se arrumou, deixou suas coisas no quarto e desceu para o bar, já vestida para a caça ao pato. E não esperou muito, logo apareceu um jovem senhor elegante. Ele se aproximou, olhou discretamente, porque era educado, para a moça no bar. Ela retribuiu com o seu melhor sorriso e perguntou para o bartender se ele conhecia algum boliche pelas imediações. O bartender respondeu que ela estava muito elegante para quem desejava jogar boliche. Mirabel afirmou que era para matar as saudades do papai, pois ele costumava jogar boliche nos finais de semana. Arno ouviu a conversa e convidou Mirabel para acompanhá-lo. Ela lhe disse que não costumava sair com desconhecido. Ele apresentou todas as suas credenciais e combinaram sair para jogar boliche na noite seguinte, pois naquele momento ele estava aguardando alguém para jantar. Um jantar de negócios. Delicado, convidou Mirabel que se mostrou surpresa, mas aceitou prontamente o convite. Durante o jantar, ela se atrapalhou com os copos e os talheres, mas entendeu direitinho que o negócio girava em torno de muito dinheiro e deduziu que Arno era um magnata. Após o jantar eles saíram para dar um giro pela noite e convidaram Mirabel, que não só aceitou como se revelou ótima companhia. Calava quando era preciso, ligava suas antenas e sorria o tempo todo. Eles adoraram a sua companhia. Na volta ela agradeceu e se despediu deles no saguão do hotel, pois era moça de família. Arno não dormiu naquela noite pensando na moça encantadora. Na manhã seguinte Mirabel acordou com o café da manhã servido no quarto, flores que Arno mandou para lembrar o compromisso à noite: jogar boliche. À noite Mirabel usou calça e camisa confortáveis, pecou pelo salto altíssimo, usou pouca maquiagem, Arno achou que ela estava um encanto. A noite estava agradável e eles foram caminhando até o boliche. Ao chegar, Arno notou que o sapato de Mirabel não era apropriado para jogar e resolveram esticar em um bar à beira mar. Arno contou a vida dele para Mirabel. Falou da família, falou do trabalho, e Mirabel contou a dela. Contou estar na cidade para fazer uma avaliação no sistema educacional, queria estudar e seus pais possuíam umas economias e que eram pessoas simples. Arno ficou encantado e na volta disse que ia viajar na manhã seguinte, porém estaria de volta dentro de cinco dias. Mirabel explicou a ele que não podia lhe esperar. Não trouxera dinheiro suficiente para pagar as despesas durante tantos dias, pois combinara com seus pais estar de volta o mais rápido possível. Arno delicadamente pediu licença para arcar com as despesas. Ela se mostrou preocupadíssima, porém aceitou. No retorno de Arno eles foram para a cidade dela. Antes ela ligou para casa e explicou toda a situação: que acabara de conhecer o homem de sua vida e que ele queria conhecer os pais dela. Na viagem de volta ela passou boa parte explicando a Arno que seus pais eram simples, porém muito honestos; o que era verdade. Ao chegar próximo de sua casa, ela se desculpou junto a Arno que ficou impressionado com tanta simplicidade. E naquela noite ele pediu a mão de Mirabel e marcou a data do casamento. Não queria esperar. Três meses após eles estavam casados e ele prometeu fidelidade e uma vida de muita alegria para sua mulher. Os pais de Arno não gostaram da nora. Arno carregava Mirabel para todos os lados. Viviam de malas prontas. Ela conheceu vários países até Arno resolver que queria se estabelecer em local tranqüilo para criarem os filhos. Estava na hora de formar uma família. Mirabel não gostou da idéia. Ele comprou uma cobertura de frente para o mar, com peças de arte que arrematara em leilão e foi ali que deu início à sessão de brigas e cobranças. Mirabel que alegou ter se casado com ele pensando que ele fosse um magnata. Está certo que seu salário era alto, mas a essa altura para Mirabel tudo era pouco. Ela começou a beber e perder a compostura. Até que certo dia, cansado, Arno contratou um advogado para fazer o divórcio do casal. Ele queria fazer tudo direitinho. Entregou um cartão de visitas do advogado para Mirabel. Ela procurou o advogado e teve um envolvimento amoroso. Arno cobrou agilidade do processo ao advogado. Ele tinha pressa, pois pedira sua transferência para outro país. Dois dias após a última consulta com o advogado, Arno foi encontrado morto. Sem divórcio Mirabel tornou-se uma viúva rica, pois o seguro de vida de Arno era polpudo e ele ainda estava recebendo uma pensão vitalícia do governo do país dele. Ela herdou tudo e passou a dividir o edredom com o advogado. O moço não gostava de trabalhar e a vida dos dois foi uma festa, vivendo de herança, como se o dinheiro fosse eterno. Acabaram se separando e ela já não possuía quase nada. Hoje para sobreviver ela aluga quartos para casais que não podem aparecer. Os encontros são com hora marcada e à luz do dia. Tudo muito tranqüilo, num local familiar e nobre. Mirabel tornou-se cafetina de luxo. Algumas vezes ela arruma alguns amantes que vem passam uns tempos com ela, consomem drogas juntos e depois desaparecem. Ela confidenciou a uma amiga que o advogado, seu ex, levou quase toda a herança de Arno. Tudo o que restou foi a pensão e uma casa. Hoje ela se droga para esquecer que já foi rica e desconhecia a lei do retorno. Vamos dar à Mirabel o benefício da dúvida.

É na família que cultivamos nossas raízes. Se elas são fortes, poderemos crescer e ter uma copa encorpada.

Um comentário:

Nana disse...

Boa tarde!!!!
Realmente, a família é o nosso alicerce para a vida..É nela, qq acontece o nosso primeiro contato social e por meio dela nos são passados os valores morais, éticos e religiosos..Apesar de hoje ela estar desfacelada,é nosso dever promovê - la e dar continuidade aos laços afetivos qq nos unem.É mto importante salvaguardar a "Família"..pensando nas gerações futuras.Esse artigo nos tras uma baita reflexão..
Um abraço,
Ana Maria